Maria Angélica Não Mora Mais Aqui
Maria Angélica Não Mora Mais Aqui | |
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Informação geral | |
Origem | São Paulo,SP |
País | Brasil |
Gênero(s) | Indie rock |
Período em atividade | 1984–1991 |
Gravadora(s) | Vinil Urbano Polythene Pam |
Integrantes | Fernando Naporano Carlos Nishimiya Victor Bock Vitor Leite Lu Stoppa Kim Kehl Deborah Freire Felipe Tillier Nelson Fumagalli Décio Medeiros Kuki Stolarski Guilherme Coelho Mola |
Maria Angélica Não Mora Mais Aqui foi uma banda brasileira pioneira do indie rock brasileiro e do movimento do guitar band nacional, formada em meados de 1984 na cidade de São Paulo, São Paulo. Precursora do indie rock no Brasil,[1] serviu de influência para todas as bandas que surgiriam e formariam o cenário alternativo local, como Pin Ups, Killing Chainsaw, Mickey Junkies e Wry. O grupo foi originalmente formado por Fernando Naporano (composição/vocal) e pelos guitarristas Carlos Nishimiya e Victor Bock.[2]
História
[editar | editar código-fonte]A primeira fase do Maria Angélica foi marcada por uma variedade de influências. Cantadas em português, as canções eram influenciadas pelo rock de garagem dos anos 1960, pelo power pop e pelo rock and roll, com dosagens de MPB dos anos 1970.[3]
Com a chegada do baterista Vitor Leite (ex-Ira!, Gang 90 e Muzak) e do baixista Lu Stopa (ex-Magazine) por volta de 1987, as faixas se tornaram mais pesadas, com uma aura punk. A partir de então, a nova acepção musical da banda - que incluía boleros, baladas, folk, bossa nova, hard rock e até fado em seu repertório – sofreu uma guinada radical. Naporano foi o primeiro vocalista, no então vigente cenário do rock brasileiro, a assumir o inglês como língua oficial de suas composições.[4] A sonoridade englobava essências do rock da época, muito levado pelo imersivo uso de guitarras, indo do jingle-jangly ao folk-pop, aliada às mais variadas acepções da chamada "Class of ’86" (C86) britânica.[5][6] Toda essa mescla levou Naporano a batizar essa nova fachada do Maria Angélica como Regressive Rock (“rock regressivo”),[7] terminologia inspirada numa crítica ao combo inglês The June Brides.
Desse amálgama surgiu o disco “Outsider” (Vinil Urbano), de 1988. Gravado em duas sessões de seis horas, ao vivo num estúdio da Bela Vista, bairro da capital paulista, o disco teve uma produção e mixagem bem cruas, feitas pela própria banda[8] e Rolando Castello Júnior (baterista da Patrulha Do Espaço).[9] O álbum apresenta uma versão de “I Don’t Mind” (Buzzcocks), a única composição não própria registrada na carreira do Maria Angélica.
Em meados de 1989, o grupo teve a faixa “Te Amo Podes Crer”, incluída no LP "Sanguinho Novo" (Eldorado), um tributo ao compositor Arnaldo Baptista, que inclusive chegou a se apresentar com o Maria em algumas ocasiões.[8] Em sua história o conjunto contou com mais de sete formações, mas o núcleo central (composto por Naporano, Bock e Nishimiya) foi mantido até o início de 1989. Nessa época, Stopa e Nishimiya deixaram a banda porque Naporano pretendia gravar mais um álbum e levar o grupo para Londres.[8] A entrada dos novos integrantes, Deborah Freire (baixo) e Kim Kehl (guitarras), injetou ao som do grupo fortes tonalidades de psicodelia e a mudança de nome para Maria Angélica Doesn’t Live Here Anymore.
O resultado desta nova aventura musical foi registrado no mini-LP “Full Moon Depression” (1990, Polythene Pam) e no álbum póstumo “Stroboscopic Cherries” (1991, Polythene Pam). Ambos os trabalhos foram gravados num estúdio em São Paulo com várias limitações técnicas. A curiosidade é que tiveram a coprodução do produtor norte-americano Roy Cicalla, que na época residia no Brasil.[10][11]
Em 1991, o grupo dissolveu-se, ainda que o núcleo de Bock, Freire e Naporano, estivesse juntos em Londres.[8] Desde sua dissolução, a reputação do grupo cresceu entre as emergentes garage-bands brasileiras dos anos 1990, adquirindo no novo milênio um reconhecimento muito maior que tiveram durante sua existência. Uma recente prova disso é o premiado filme documentário “Guitar Days”, de Caio Augusto Braga, onde o Maria Angélica é visto como uma das seminais bandas da história do rock brasileiro dos anos 1980 e 1990.
Para Fernando Naporano, aqueles anos 1980 formavam um "um cenário muito mais interessante, instigante e enriquecedor que o atual. A razão é simples. Não havia internet, nem tantas facilidades tecnológicas para se confeccionar um livro ou para se editar um disco pelas próprias mãos. Tanto as editoras e gravadoras, fossem as multinacionais, as de grande poder de distribuição ou as independentes (sem dúvida, as mais expressivas), tinham seus lá comandos artísticos, seus critérios e suas diretrizes de trabalho".[12]
Em 2021, o catálogo do Maria Angélica começou a ser disponibilizado nas principais plataformas de streaming de música.
Documentários
[editar | editar código-fonte]"Guitar Days - An Unlikely Story of Brazilian Music" é um documentário de Caio Augusto Braga,[13] lançado em 2019 e premiado no Festival Premios Latino del Cine y la Música de Marbella, Espanha como melhor documentário e melhor direção de documentário, e na Alemanha como melhor documentário no festival Indie Nuts.
A história do Maria Angélica se entremeia com a linha narrativa do documentário,[14] que enfoca o movimento guitar iniciado pelo próprio Maria até a sua transformação ao indie, com a cena atual.[15]
Além de depoimentos das principais bandas dos movimentos e do próprio Fernando Naporano, o documentário traz entrevistas com músicos estrangeiros que influenciaram a cena, como Thurston Moore (Sonic Youth), Mark Gardener (Ride) e Stephen Lawrie (The Telescopes), e com o jornalista da NME e Melody Maker e "descobridor" do grunge, Everett True.[16]
Discografia
[editar | editar código-fonte]Álbuns
[editar | editar código-fonte]- 1988 Outsider
- 1991 Stroboscopic Cherries
Mini-LPs
[editar | editar código-fonte]- 1991 Full Moon Depression
EPs
[editar | editar código-fonte]- 1986 Lost & Found
Bootlegs
[editar | editar código-fonte]- 2000 Saudade dos Amores que Não Tive
Compilações
[editar | editar código-fonte]- 1989 Sanguinho Novo... Arnaldo Baptista Revisitado[17]
- 2019 Guitar Days - An Unlikely Story of Brazilian Music
Videoclipes
[editar | editar código-fonte]- 1988 Alemanha
- 1989 Purple Thing
Integrantes
[editar | editar código-fonte]- Fernando Naporano (composição/vocal)
- Carlos Nishimiya (guitarra)
- Victor Bock (guitarra)
- Vitor Leite (bateria)
- Lu Stoppa (baixo)
- Paulo Zinner (bateria)
- Kim Kehl (guitarra)
- Deborah Freire (baixo)
- Felipe Tillier (baixo)
- Décio Medeiros (bateria)
- Nelson Fumagalli (teclado)
- Kuki Stolarski (bateria)
- Guilherme Coelho Mola (baixo)
Ligações externas
[editar | editar código-fonte]- Página Oficial no Facebook
- Maria Angélica no Spotify
- Entrevista com Lu Stopa, Victor Bock e Carlos Nishimiya
Referências
- ↑ Campos, Cynthia de Lima. «Quando o indie começou?: contribuições das bandas fellini e maria angélica não mora mais aqui para a consolidação do indie rock nacional». Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste). I Congresso Internacional de Estudos do Rock: https://archive.org/download/quando-o-indie-comecou/001063686.pdf
- ↑ «Maria Angélica Doesn't Live Here Anymore...». Spotify. Consultado em 9 de março de 2021
- ↑ «Fernando Naporano | +CCSP». Consultado em 14 de abril de 2021
- ↑ Miziara, Ana Flávia. «Rock Brasil » 100 Anos de Música». www.anaflavia.com.br. Consultado em 11 de março de 2021
- ↑ Barbosa, Marco Antonio (22 de agosto de 2019). «TOP 10: OS MAIS IMPORTANTES DISCOS DO INDIE BRASILEIRO». Medium (em inglês). Consultado em 11 de março de 2021
- ↑ Suvarine (15 de novembro de 2008). «Estranha Música: Maria Angélica Não Mora Mais Aqui». Estranha Música. Consultado em 11 de março de 2021
- ↑ «Perfil do Leitor: Fernando Naporano». Biblioteca Pública do Paraná. Consultado em 14 de abril de 2021
- ↑ a b c d «Mofo - Maria Angélica Não Mora Mais Aqui». web.archive.org. 29 de novembro de 2011. Consultado em 14 de abril de 2021
- ↑ Maria Angélica – Outsider (1988, Vinyl), consultado em 14 de abril de 2021
- ↑ Alves Júnior, Carlos (2003). Rock Brasil : o livro. Roberto Maia. [São Paulo]: Editora Esfera. pp. 82–86. OCLC 62384111
- ↑ Maria Angélica Doesn't Live Here Anymore – Stroboscopic Cherries (1991, Vinyl), consultado em 14 de abril de 2021
- ↑ «Entrevista ao poeta Fernando Naporano por Sandra Santos». Entrevista ao poeta Fernando Naporano por Sandra Santos. Consultado em 16 de março de 2021
- ↑ «Guitar Days: "Vou fazer o que eu quiser" - Trabalho Sujo». Trabalho Sujo. 19 de abril de 2016
- ↑ «Grupos dos anos 1990 que cantavam em inglês são festejados em discos, docs e shows». O Globo. 16 de dezembro de 2016
- ↑ Line, A TARDE On. «Diretor fala concepção de documentário 'Guitar Days'». Portal A TARDE
- ↑ «midsummer madness » Bandas». Consultado em 11 de março de 2021
- ↑ TM, Augusto. «Sanguinho Novo… Arnaldo Baptista Revisado (1989) | Toque Musical». Consultado em 11 de março de 2021